Estou indo para casa. O nosso caminho já acabou e eu não quero ficar andando por ai. Eu conheço os fatos, não gaste seu tempo! Você marretou as estruturas e destruiu todas as paredes, pondo abaixo tudo que construímos. Estou me reerguendo, concertando minha vida. Juntando todos os pedaços. Você acha que consegue piorar a situação? Não se pode acabar com o que não existe mais!


"E de tudo que se achava ser eterno, restou apenas as lembranças. As únicas que sobreviveram pra contar que tudo um dia existiu. Pra mostrar aos nossos corações que tudo um dia foi real. Que tudo um dia era sincero e verdadeiro. Porque o que irá existir, hoje, são os laços que nos unia. Laços que os olhos não podem ver, mas que nosso coração é capaz de sentir. Porque todas aquelas promessas, hoje, estão quebradas no chão que um dia caminhamos juntos. E todos aqueles momentos, hoje, encontram-se guardados em nosso passado... É! De tudo que se achava ser eterno, restou apenas as lembranças...


Tá, você me deu um discurso muito bonito. Me comoveu. Tinha até uma lágrima querendo sair, você percebeu? Mas não é isso que eu estou querendo! Já se perguntou o que eu realmente quero? Pois aqui fica a dica: não quero ser dono apenas de seus poemas de amor. Não quero ser dono apenas de suas palavras mais doces nem possuir apenas os grandes significados. Não quero apenas exigir da sua criatividade, quando for me presentar. Nem quero que você se desdobre apenas para fazer as coisas que me agrade. E nem me venha com essa proposta tão clichê de amor perfeito! Já parou para pensar no que eu realmente quero? Putz, acorda! Eu quero você, da forma menos lapidada possível. Pura, sincera, verdadeira. Eu quero o seu amor. Quero ele da forma mais rústica possível. E quero a combinação perfeita: nós dois!


"- Papai! Posso te perguntar uma coisa?
- Claro que pode, filho. – diz ele colocando o filho em seu colo – Vamos lá, o que quer saber?
- Por que o mundo é assim?
- Assim como filho? – perguntou o pai tentando entender a pergunta.
- É que a professora fez uma atividade hoje lá na sala. E queria que a gente desenhasse como seria o mundo quando a gente crescesse.
- Que bacana! E o que você desenhou?
- Na hora eu pensei em fazer um desenho bem bonito. Cheio de árvores, bichos, crianças brincando e um céu bem azul. Mas ai eu lembrei do jornal que o senhor estava lendo ontem e não achei certo desenhar o que eu queria.
- Porque?
- Não vai ser a verdade papai! Então eu preferi desenhar uma criança sonhando.
- Sonhando com o quê? Com seu computador? Seu vídeo-game?
- Não papai. Sonhando ser feliz pai! Por que quando ela nasceu o mundo era outro. A violência matou os pais dela. A indiferença matou as chances dela. A corrupção arrancou dela a infância. A falta de escrúpulos destruiu a inocência dela. A ambição acabou forçando ela se tornar um adulto. E o mundo que a gente conhece hoje, estava nos livros de conto de fadas por que não existia mais!
Atônito com as palavras do filho, esperou ele recuperar o fôlego e retomar a sua fala:
- E por isso ela estava sonhando... Porque foi o que restou! Era a única saída.
Depois do rápido silêncio que dominou a conversa, o pai finalmente fala:
- E por isso, você está querendo saber o porquê do mundo é assim?
- É! Por que todo mundo pode se juntar e mudar o futuro. Mas ninguém faz..."


"Sabe aquilo que você costumava acreditar? Aquilo que lhe enchia o coração de tanta força e que preenchia seus músculos de coragem pra enfrentar os empecilhos da vida e confrontar os que tentavam destruir? Aquilo que lhe fazia cuidar e preservar, tentando manter tudo em seu devido lugar mesmo debaixo de uma tempestade? Aquilo que tornava suas palavras grandes e até mesmo exageradas, por que falar sobre aquilo da mesma maneira de sempre lhe enchia de orgulho? Aquilo que você se apóia quando perde as esperanças, quando percebe que o céu está distante demais para alcançar? Sabe do que eu tô falando? Pois é, quando tudo isso começa a perder a imensidão devido a pequenos detalhes que vão destruindo-o... Quando tudo isso começa a perder a capacidade de lhe fazer sorrir... Quando tudo isso começa a esfriar dentro de você... Começa a perder a sua fé. E então, vai morrendo. E quando você realmente conhece algo valioso, você percebe que gastou grandes sentimentos em pequenas coisas..."


"Querido Dono,
Estou escrevendo essa carta em forma de agradecimento. Lembro-me bem do dia em que cheguei. Todos fizeram uma festa! Encheram-me de mimos e paparicos. Passaram-me de braço em braço. Alisaram-se constantemente. Incluindo você! Arranjaram minha casa e a tornaram confortável. Pena que eu ainda sentia a falta da minha mãe... Lembro-me quando me deu boa noite, dizendo que tudo iria ser perfeito agora e que eu estava no lugar certo. E realmente estava! Por que durante meus latidos na noite, você surgia uma, duas, três, infinitas vezes. Eu via sua cara de sono, mas via também a sua cara de preocupação. E foi a partir daí que tudo começou...
Alguns dias de folia se passaram. E então, eu deixei de ser a novidade da casa. Passei de protagonista a figurante. Por que toda vez que me aproximava de alguém pra receber um carinho, recebia gritos e empurrões. Menos você. Continuou me vendo como uma novidade. Continuou me tratando como uma novidade. Só que uma novidade corriqueira e diária. Toda manhã vinha com um grande sorriso me dando bom dia. Alisava-me. Abraçava-me. Toda tarde, me levava para andar. Mostrava-me ruas e becos da cidade. Mostrava-me carro e ônibus. Mostrava-me amigos caninos e humanos. Mostrava-me o que havia do outro lado do muro! Toda noite, brincávamos sem parar. Corríamos pra lá e pra cá. Pulávamos aqui e ali. Até nos cansar. Até você entrar e ter que dormir.
Aquele companheirismo e aquela convivência era a mais verdadeira que pude encontrar. Os dias viraram meses. Os meses viraram anos. Anos de cumplicidade e lealdade. Você começou a sair mais cedo de casa. Não mais me levando pra sair. E só chegava pela noite. E eu ansiava todo dia para a hora de te ver entrando em casa chegar. E quando ela chegava, eu fazia uma tremenda festa! Abanava o rabo. Pulava em seu corpo. Corria em círculos enquanto entrava. Fazia uma alegria por que sabia que aquele momento era meu. Que naquele instante seriamos apenas eu e você: a dupla imbatível! Os amigos inseparáveis!
Até que um dia essa hora não chegou. O dia raiou e você não entrou por aquele portão. Pelo contrário, todos de casa saíram desesperados. E eu fiquei ali, sem entender o que estava acontecendo. Foi então que seus pais me levaram ao hospital e te vi deitado numa maca, cheio de aparelhos esquisitos. Eu via tristeza no olhar de todos, menos no seu. Por que quando me viu, um sorriso tão chamativo estampou seu rosto e me fez, instantaneamente, pular em seus braços. E de novo, estávamos juntos!
Mas, hoje, os lugares inverteram. E sou eu que me encontro numa maca percebendo a tristeza no rosto de todos, até no seu. Culpando-se por ter deixado o portão aberto e me dado brecha para traquinar na rua. Hoje, eu que sinto suas mãos passarem por meu corpo fraco e ensangüentado do acidente que acabei me envolvendo. Sinto suas lágrimas caírem em meus pêlos. E sinto sua mão apertando minha pata. Sua tristeza é tão forte, que acabo sentindo-a pela simples troca de olhar. Hoje, sinto suas memórias percorrem sua mente e sair num pequeno sorriso no canto da boca. E me alegra saber que você me mantém vivo na mente. Alegra-me saber que você lembra de todos os dias que passamos juntos. Da dupla invencível! Dos amigos inseparáveis! Se eu pudesse falar a sua língua, pediria para não se sentir culpado e sim alegre. Por que fomos capazes de criar um laço tão verdadeiro que nem o tempo vai ser capaz de apagar. Um laço que foi dado no instante em que você me deu o seu coração e eu te retribuí com o meu. E isso, é infinito! Por isso, estou aqui, para dizer que sou grato a Deus por ainda existir pessoas como você. Por que são vocês que fazem a vida de qualquer animal, a mais bela arte criada por Deus..."


Nossas fotos rasgadas são pedaços de mentiras e ilusões espalhadas no chão.
Suas cartas de amor se traduzem em fantasias irreais.
Suas palavras morrem quando saem da sua boca. E tornam-se ásperas nos meus ouvidos.
Nossos sonhos são perfeitos apenas no papel, porque não consegue nos tirar do chão.
Então, pra quê insistir?
Pra quê dá murro em ponta de faca?
O amor pode ser universal, mas não são todos que sabem saborear sua infinidade.
E é querendo dividir essa imensidão que joguei meu sentimento por você na fogueira.
Porque eu não quero do meu lado, ninguém pequeno demais pra o meu amor!

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