O viajante

O celular está mudo. Fico deitado na cama com meus desejos e planos espalhados. Recorro à mais uma ligação. "Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagem e estará sujeita à cobrança..." Maldita voz! O tempo parece não passar. Ligo a TV e passo todos os canais mas não consigo acalmar a euforia dos meus planos para amanhã, e nem tão pouco a consciência de uma suposta anulação. A preocupação se acomoda. Me metralho de perguntas. Inúmeras delas por sinal! Revejo meus planos. Tento me acalmar e cessar de vez esse turbilhão da minha mente. Arrumo a bagunça do meu quarto. Minha mente está vazia. E mente vazia é cultura de pensamento ruim! Ponho os fones de ouvido e as nitas musicais me levam à você. Tento ligar mais uma vez, mas me recuso. Os números surgem na tela do celular, incosciente. Apago e sento-me na cama. Ligo ou não ligo? Ligo! Os "tuns" da chamada aumentam minhas expectativas. Quero ouvir seu alô e poder conversar contigo. Mas a voz que surge é outra: "Sua chamada está sendo encaminhada oara caixa de mensagem..." Droga! Mil vezes droga!

Um relacionamento só acontece quando há duas almas e um sentimento, unificando-as. E ele só se constrói quando as duas almas zelam pelo sentimento. Mas às vezes isso não funciona... Você tem noção do quanto é difícil para mim? Já parou para olhar algo além do seu umbigo? Acho que não... Suas palavras e suas atitudes mostram aquilo que você nega. E por saber que você não consegue ver nada além de si mesma, eu estou aqui ditando minhas dores e tornando minhas lágrimas em palavras. O que é mais difícil, porque por mais que eu tente, a intensidade não será a mesma.
Mas quero que saiba que está sendo difícil para eu zelar por isso. Sabe o quão difícil é pôr meus sentimentos na frente dos meus desejos? Pô, eu sou jovem! Tenho um caminho a seguir. Vontades a realizar. Erros a cometer. Uma “liberdade” a aproveitar”. E eu abri mão disso tudo para está com você do meu lado. Abri mão, com um pouco de receio, não minto, mas sabia que seria gratificado com algo bom. E esse algo era nós! Você sabe o quão difícil é colocar o meu sentimento na frente dos meus amigos? Tudo bem que eles não permaneçam em minha vida inteira, mas agora eu quero tê-los mais próximos possível! Porque eu preciso deles, afinal eles nunca me abandonam. Nunca me deixam sozinhos. Procuram sempre saber como eu estou. Querem sempre saber o que fiz ou que deixei de fazer. E agora pergunto: você já me procurou alguma vez? Já pegou o seu celular e ligou pra mim simplesmente pra dizer que me amava e que estava com saudades? Você sabe o quão difícil é pôr esse sentimento na frente do meu orgulho? Logo eu que sempre fui orgulhoso, tive que abandonar isso para manter o nosso relacionamento em bom estado. Para manter o nosso sorriso. Mas isso não é o suficiente, não é? Por que enquanto eu me despia dele você se cobria da cabeça aos pés. Você sabe o quão difícil é pôr esse sentimento na frente de mim mesmo? Acho que isso você não sabe mesmo! Por que qualquer assunto que não seja a sua pessoa, você não reconhece. Eu sempre tive medo disso, de me deixar um pouco de lado, de me amar um pouco menos para amar mais a nós. Tive medo, e assumo! Afinal, eu parei de olhar o que era bom para mim e comecei a olhar o que era bom para nós. E sabe qual foi parte difícil disso? Saber que você fazia o inverso...
É por saber que você não dá o valor devido a mim, por saber reconhecer que você não imagina o quanto eu te amo que as coisas tornam-se difíceis. Fica até difícil zelar por nós. Fica chato e cansativo. E eu não quero carregar isso nas minhas costas sozinho. E por ser tão difícil, eu vou tomar o caminho inverso. Vou amar mais meus desejos. Vou olhar mais para meus amigos. Vou fazer o melhor para mim. Vou me amar mais!

Você olha pela janela
E percebe que os dias
Estão completando aquele calendário rápido demais.
Você se olha no espelho
E percebe que você está crescendo num ritmo fora do normal.
Como se suas células tivessem vida própria.
E ai, você senti uma vontade de correr.
Você procura nos bolsos, na bagunça do seu quarto e roda a casa toda.
Mas não sabe onde guardou aquele garotinho de antes,
Com todos aqueles sonhos tão cheios de vida
E tão possíveis de serem realizados.
Você percebe que a vida te sufoca, muitas vezes.
Como seu o tempo colocasse as mãos em seu pescoço
E a realidade fizesse o favor de apertá-las.
Você tenta respirar.
Você procura aquele último fôlego em seus pulmões.
Aquele tão cheio de esperança
E capaz de oxigenar a sua alma.
E ai, você sente uma vontade de correr.
Você começa a notar
Que a vida não espera você estar preparado.
Ela segue o caminho apontado
E você que arrume as malas e apresse os passos.
Você quer expandir seu peito
E sentir aquela brisa correr pelo seu rosto
Sem preocupação que algum problema te atropele.
Mas ai, você sente um impacto.
E quando abre os olhos,
Você nota que foi atingido.
Então, você percebe que tem de reagir.
Enfrentar!
É quando você corre por ai.
Corre pelo meio dos carros, das bicicletas e dos pedestres.
Corre pelo conformismo, falsos amores e pelas lágrimas.
Corre em busca de um referencial.
Corre na sede de encontrar respostas.
Corre a procura da sua felicidade, da sua paz.
Corre pelas ruas tão solitariamente movimentadas
A procura de sentimentos e pessoas que preencham esse vazio.
Corre ao encontro de seus desejos.
Corre a fim de encontrar a sua vida.
E corre e corre, sem parar.
Corre porque sente a necessidade de viver
E buscar aquilo que lhe cabe.
Pois, quando parar para descansar.
O que você tiver nas mãos é o que você conquistou!

Talvez eu esteja me acostumando a isso. Porque eu já não me importo tanto em não ter você ao meu lado toda vez. Já estou mais companheiro da sua ausência e mais inimigo da sua presença. Acho até que aprendi a lhe com a saudade!
Toda vez que eu deito em minha cama e escuto o nosso CD ( Aquele mesmo... que você me deu e que tem nossas músicas ) eu me sinto tão seu. E eu começo a viajar pelo nosso passado. É como se você estivesse ali do meu lado e estivéssemos conversando sobre nossa história. Quando o CD acaba é como se você se despedisse. Como se fosse a sua hora de partir. E quando me dou conta, eu estou sozinho na minha cama...
Quando paro para olhar o nosso porta-retrato, no meu quarto, eu lembro do dia em que tiramos a foto. Você estava nos meus braços e eu estava gostando daquela situação. Estava satisfeito com o nosso amor e certo de que ele iria crescer, cada vez mais. Cada dia mais. Mas ai, eu tenho uma rotina a seguir e coisas a fazer. Então, meu campo de visão deixa de foca-lo e é como se estivéssemos nos despedindo mais uma vez.
Eu anseio durante a semana, faço planos e construo momentos para curtir com você, no fim de semana. Eu imagino o que te dizer. Onde te tocar. Como te excitar. Como irei me despedir. Como achar o momento perfeito para dizer “Eu te amo”. Eu conto dos dias pra te ver! Segunda, terça, quarta, quinta, sexta... mas ai tudo acaba. Você vai estar ocupada. E mais uma vez, eu tenho que ficar com as lembranças. Eu tenho que me agarrar a tudo que me leva a ti. Tenho que transformar a sua ausência, o seu vazio em algo que me aqueça. E lá vai eu sonhar mais uma vez...
É... realmente estou acostumado a isso. A viver as lembranças. A sentir as lembranças. A sonhar com as lembranças. Talvez, esteja mais apaixonado à elas que a nós. Qual seria a outra explicação? Toda vez eu sonho, a vida da um tapa em minha cara e me agita. Você está longe e eu estou aqui, acostumado a isso.